Doação

- Você não ia me dar uma folga?
- Ia. Mas houve mudanças nos planos.
- Caramba. Por que vocês são assim?
- Assim como?
- Desorganizados.
- Não é questão de desorganização. É questão de trabalho.
- Mas se trabalho fosse bom, você não estaria aqui agora comigo. Estaria com outro.
- Eu sei, mas foge do meu alcance.
- E por que você suporta isto. Como agüenta sentir tudo isto?
- Faz parte...
- Como faz parte? Sua cabeça está mais pesada, dá para perceber um sentimento maior, mas que neste momento você não pode preenchê-lo.
- De certa forma, você tem razão. Mas consigo preencher uma parte deste vazio.
- É? E como?
- Saber que ela volta, e que na hora de matar a saudade, tudo se encaixará. E eu voltarei a dar um descanso para você.
- Não, não me entenda mal. Estou aqui para ajudar se precisar... mas acorda!, sem trocadilhos... Está cheio de mulheres dando sopa e você fica babando aí, e ainda bem em cima de mim...
- Pega leve! Você não irá sentir o peso da minha cabeça como da última vez com a outra.
- Tomara.
- No dia que você puder sentir o beijo e o abraço dela, vai entender melhor o que estou falando. E perceber que este tipo de sentimento é capaz até de fazer eu conseguir conversar com um travesseiro. Mas até lá, provavelmente você já foi doado.