Dias melhores, virão

Astolfo estava sossegado em sua casa. Era um sábado à noite e nem os versos de Lulu Santos no quarto do filho o fizeram ficar de mal com a vida. “Sábado à noite tudo mudar!” Mas por que apenas no sábado tudo pode mudar? Naquele sábado, Astolfo queria mesmo era ver um dvdzinho, um copo de cerveja, uma pipoca e a companhia da mulher ao lado. Nada mais, nada menos.
Tudo caminhava para ser um sábado diferente. Sem baladas, sem festinhas, sem encontros com a turma para beber no bar até de madrugada. Também não tinha mais brigas em pleno sábado à noite. Sim, porque Astolfo só via as brigas dos pais nas noites de sábados. Como ele lembrava disto? Porque sempre no meio da briga um deles o mandava desligar a televisão e ir para o quarto.
Acabado o filme, a mulher foi para o quarto ler uma das dezenas de revistas femininas que existem por aí e ele resolveu apenas dar uma ajeitada no guarda-roupa. Já começava a incomodá-lo o fato de as camisas estarem amassadas. Foi quando ouviu no fundo um “parapa-parapa-pará-papá”. Chegou perto da janela e não acreditou! Como alguém poderia estar ouvindo aquela música, naquela hora e com um som tão alto naquela região. Sim, a região era chique, nobre e cara a ponto de ninguém ouvir música, ao menos não naquele volume naquele horário e muito menos aquele tipo de música. Uma batida de funk que fez sucesso em um filme de policial brasileiro era demais para um bairro tão classe AAA. “Parapa-parapa-parapapá”, repetia toda a letra da música.
- Mas será possível este som?
- Deixa para lá, disse a mulher... Astolfo, vem dormir, vem.
Astolfo, porém, foi se incomodando mais e mais com o som repetido, repetitivo. Havia algo lá que não o deixava em paz. Mas foi quando se pegou cantarolando o “parapa-parapa-parapapá” que tomou a decisão.
- Querido, o que você está fazendo? Onde você vai assim vestido? Aliás, mal vestido? Por que você botou esta camisa amassada, este shorts e o chinelo Adidas?
- Tenho que ver de onde está saindo está música.
- Você vai brigar com eles?
- Não, pode ter certeza que não.
- Então para que você quer saber?
- Não sei, querida, não sei. Mas eu preciso. Eu não mudarei por causa disto, mas deixará os meus dias melhores.

Comentários

Anónimo disse…
é Astolfo, ao menos podia ter passado a camisa né?
Dias melhores estamos a todo momento. Astolfo é um cara pouco ajambrado, mas demonstra o sentimento que pobre, rico, bom ou mau possuem: a esperança.