Seja jornal da capital seja um grande conglomerado. A ordem foi simples e bem ampla dada pela chefia: veja se dá alguma merda de conflito de torcedores.
Daí vem a pergunta básica: alguma vez alguém viu festa de criança em que uma delas não saia chorando? Seja porque ela bateu a cabeça na porta de vidro, seja porque alguém roubou o balãozinho dela ou simplesmente porque o sono chegou forte e ela só quer dormir.
Quando se é novato, você nem pergunta para onde deve ir numa pauta como essa. Tem medo de que seja tão óbvio, que vai para a rua e pronto. Depois, um pouco menos novato, faz a pergunta só para ver a reação da chefia. Isso realmente é divertido. Mas voltando à pauta.
Pega um taxista de mal com a vida, ligo o foda-se e tento lembrar como se faz mesmo para ligar a câmera do N95. Descubro que a bateria dele está bem no fim, reaprendo a usar ainda no carro e vamos para o Pacaembu. Mas o Pacaembu é gigante. Então, siga o instinto. Instinto de quem já fez o mesmo há 14 anos, mas na ocasião era outra torcida alvinegra.
Mas torcida é tudo igual. Juntou três com a mesma camisa de uniformizada eles viram um único ser. Então, fique próximo desse ser e o fato acontece. Afinal, qual outro ser vivo vai ficar dançando a menos de dois metros de um muro formado por policiais do batalhão de choque e da cavalaria? Sério, alguém já viu leões ficarem dançando na frente de um grupo de elefantes fortes e sadios?
Entre uma pisada e outra em bosta de cavalo, vem uma explosão, daí outra e daí sua língua parece que vira uma casca de abacaxi e os olhos se entopem de lágrima, uma lágrima ardida. E ainda mais explosões que fazem a sua alma parar no Morumbi.
Mais tarde, o assessor da polícia liga e diz que a imprensa não para de ligar para ele para saber o que aconteceu no Pacaembu. “E o que eu vou dizer para eles se o meu comandante diz que não houve nada?” “Manda ligar para mim, então, porque eu estava lá e vi. Ninguém me contou”.
Foi para fechar o domingo de plantão. Uma festa tendo como salão a cidade de São Paulo. E a criança em questão não estava vestindo roupinha do homem-aranha. Mas o mais importante é que a criança que chorou sem saber por que volta feliz para casa e pensa: será que vão deixar você ir para outra festinha? Se deixar, é preciso lembrar: fique sempre perto dos brigadeiros ou da porta de vidro.
Comentários
da próxima vez me traga ao menos um brigadeiro!