Sujando as mãos

- Cuidado, você vai cair!
- Não, não vou não.
- Se o trem der uma freada mais forte, você voa.
- Que nada, eu sei me equilibrar.
- Não seria mais fácil se você se segurar como eu estou fazendo?
- Você tá doido?
- Por quê?
- Porque é nojento ficar segurando nestes postes do metrô.
- Nojento?
- É, vai saber onde as pessoas botaram a mão. Ou vai dizer que a sua mão não está escorregando?
- Sei lá, nem tinha notado.
- Pois é. Isto é disgusting!
- Mas você nunca segura?
- Nem bêbado!
- E no ônibus, como você faz?
- No ônibus não tem muito jeito, mas eu evito ao máximo.
- Como evita ao máximo?
- Pó, é mais nojento ainda. As pessoas botam a mão no cabelo, coçam a bunda, o saco, colocam o dedo no nariz e depois enfiam a mão no poste do busão. Então, eu só seguro o necessário.
- Tudo bem, você tem razão até certo ponto, mas é por isto que se lava a mão depois, quando se chega no trabalho ou em casa ou no restaurante, não?
- Argh, não quero falar mais sobre isto. Vamos mudar de assunto.
- Ok. Ah,antes que eu me esqueça, deixa eu te pagar os dez reais que eu te devo de ontem, do almoço.
Ele, então, aproveita que o Metrô parou na estação Sumaré, abre a carteira, pega o dinheiro com a mesma mão que estava segurando no cano e dá para o amigo.
- Valeu.
- Valeu você, mas você reparou que eu te dei o dinheiro com a mesma mão que estava segurando no cano?
- Ah, mas com dinheiro é diferente.