O rabino católico em: Minha Filha

João Paulo Rabinovitchi. Rabino católico a seu dispor. Mas vou logo avisando. Conheço tudo de São Paulo, mas nasci em Assunción, no Paraguai. Gosto de uma conversa, um uísque (até paraguaio já estou aceitando), mas principalmente que o pagamento seja adiantado. Afinal, não há religião que sobreviva sem pagamento. Mas diga lá, no que posso ser útil.
- Sabe o que é rabino?
- Não faço idéia.
- É minha filha. Ela anda estranha ultimamente.
- Defina estranha, por favor.
- Estranha, rabino. Estranha é estranha.
- Ainda não entendi.
- Sabe, minha filha sempre foi muito educada, sempre me deu muita atenção e nunca deu trabalho algum.
- Nem na escola?
- Nem na escola, rabino. Ela sempre tirou as melhores notas, sempre foi muito bem até nos esportes. Vem aqui. No quarto dela, tem uma coleção de medalhas de atletismo, de handebol e de natação. Ela sempre se destacou em tudo.
- E onde anda o “estranha”?
- Então, de uns tempos para cá, ela vem reagindo de forma diferente.
- Está usando drogas?
- Até cheguei a desconfiar disto, mas sem ela perceber, fiz um exame de sangue dela com o ginecologista. Cheguei até vasculhar a bolsa dela para ver se encontrava uns daqueles negócios que a juventude de hoje gosta...
- Maconha.
- Isto, maconha. Mas não encontrei absolutamente nada.
- Então eu continuo sem entender.
- Entender o quê?
- Bom, primeiro que até agora a senhora não me ofereceu nada para beber.
- Desculpa. Tem água, refrigerante...
- Uísque!
- Então, rabino. Como ia te falando. Ela sempre vinha em casa com os mesmos amigos, mas faz um tempinho que ela nem fala mais sobre eles. Agora, ela só quer saber de ficar mandando recadinhos por celular.
- Recadinhos? A senhora quer dizer torpedos?
- Isto. E ela nunca atende o celular quando toca. Sempre desliga e começa a digitar mensagens via celular.
- E você já perguntou a ela de quem se trata?
- Nada, ela nunca fala nada. Sabe, rabino, acho que ela é.... como posso dizer... sabe isto que até aparece agora na novela...
- Lésbica?
- Vira esta boca para lá. Mas acho que é isto mesmo.
- Faz o seguinte, então. Primeiro, bota mais uma pedra de gelo. Agora, me dá uma foto e um fio de cabelo dela. Isto, escreve o número do celular dela atrás da foto. Conheço uma mandinga que é tiro e queda. E, como gostei do seu uísque, digo, de sua recepção, eu vou até apelar para alguma coisa da Cabala. Em uma semana veremos o resultado.

Uma semana depois

- Conheci a sua filha e posso garantir. O problema dela não é mais este.
- Ah, rabino, que bom, que bom. Nossa, nem sei como agradecer. E qual é então?
- Mande a sua filha parar de ligar para mim que não gosto que fiquem no meu pé.

Eu sou João Paulo Rabinovitchi, que como um bom filho de Deus e de todos os deuses, também gosta da fruta.

Comentários

o_argentino disse…
Gostei. Vc manda bem nestes diálogos. A pergunta é: a garota sentou ao lado esquerdo do rabino?