O PREÇO DO FRANGO

- Tzena, tzena!, io nunca voi esquecer esta palavra.
Antes mesmo de a manhã chegar, ele saía para trabalhar. Não era porque o chefe mandava entrar cedo. Ele mal tinha chefe. Patrão era o estômago. O dele e o das duas mulheres de sua vida, a esposa e a filha de três anos. Depois de passar a noite depenando o frango morto, um dos poucos momentos que conseguia passar acordado ao lado da mulher, começava a puxar o cordão para amarrar cada uma das aves.
E se hoje as coisas já não são simples, mesmo com a invenção do computador, celulares, lap top, palm top, tênis com sola de mola, na época era tudo ainda mais complicado. Mas também era mais criativo.
A venda de aves era proibida em Israel, a não ser claro que conseguisse ter um açougue ou algo do gênero. Por isto, o governo começou a caçar os vendedores ilegais de carne. Assim, o frango começou a ter o seu mercado negro.

- Não era dólar, mas era como se fosse.

Ele, então, pegava o cordão e amarrava frango por frango lado a lado, passava o fio pela cintura de uma maneira que não parecesse estar escondendo nada sob a camisa. Se fosse nos dias atuais, seria como uma “mula” frigorífica.
A hora da verdade era no ônibus que levava para Tel Aviv. Fiscais do governo faziam questão de entrar no ônibus no meio do caminho para descobrir os violadores da lei. Quando era época de vigilância mais brava, a sua esposa é quem fazia as vezes de carregadora. Qualquer problema, a mulher alegava que estava grávida. E ai do fiscal que tentasse ou pedisse para levantar a sua saia.
Mas a situação começou a encher a paciência até mesmo de quem não tinha nada a ver com o frango. Tanto que era só um fiscal entrar no ônibus que todos, sem exceção, passavam a imitar uma galinha no cio. O negócio era deixar o fiscal sem graça e faze-lo sair logo da condução, afinal todos eram trabalhadores e precisavam sustentar as famílias.

Em Tel Aviv, já sem os frangos sob a camisa, ele começava a gritar.
- Tzena, tzena! Tzena, tzena!.


- Sim, para vender, tinha que ser apenas no atacado. Não tinha esta de vender no varejo. E não tinha a menor condição de voltar com a tzena, a cartela de frangos, para casa.

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