Macarrão com berinjela

- Chega!!! Esta foi a última vez! Será que você só é capaz de pensar no próprio umbigo? Será que esquece que nesta casa há outra pessoa além de você? Como uma pessoa consegue ser tão egoísta?
- Mas, querida, me desculpa, eu apenas...
- Desculpa uma ova! Acho que você faz de propósito. Acho que gosta de brigar.
- Mas quem está brigando é você!
- Claro que sou eu. A culpa é sempre minha, não é mesmo? Você é sempre a vítima! E quem é que provoca?
- Mas a única coisa que eu fiz...
- Exatamente, foi exatamente por esta única coisa que você fez. Mas deve ser a décima vez que faz esta “última coisa”.
- Querida, me desculpa, juro que vou melhorar. Mas o que eu posso fazer se a sua comida estava tão boa? Da próxima vez, eu deixo um pouco para você.
- Você sempre fala que esta é a última vez. Mas agora eu quero só ver.

Dois dias depois, Clarissa preparou macarrão com berinjela e molho vermelho. Ainda botou alguns frutos do mar para dar uma requintada na comida que o maridão tanto gostava e que iria adorar comer quando chegasse tarde do trabalho
Eronildes chegou em casa faminto, viu que as luzes estavam apagadas, mas pelo cheiro sentiu que a mulher havia cozinhado. Entrou na cozinha, acendeu a luz e abriu a panela quando delirou ao ver a comida. Entretanto, lembrou da última briga e resolveu que desta vez seria diferente.

No dia seguinte de manhã, Eronildes acordou assustado com a porta da casa batendo forte. Gritou por Clarissa, mas ela não respondeu. Resolveu então escovar os dentes, lavar o rosto e se dar conta que ainda poderia ficar uma hora a mais na cama antes de ir trabalhar. Ao voltar para o quarto, notou que as portas do armário estavam totalmente abertas e parcas peças de roupas íntimas dela estavam no chão. Aproximou-se e começou a ver o que não queria. Todo o armário estava limpo. Suas coisas, que ocupavam apenas as gavetas do canto inferior esquerdo, ainda estavam intactas. Correu para a sala e entrou na cozinha. Viu todo o macarrão jogado no lixo. Na geladeira, o recado.

Caro Eronildes,
Eu já suportei tudo nesta vida, principalmente com você. Seu egoísmo, seus jogos de futebol terças à noite, seu bilhar às quintas e até mesmo o futebol americano na tevê as segundas. Mas sempre passei por tudo isto, porque achei que nosso amor estava acima destas mesquinharias. Agora não esperava este tipo de covardia da sua parte. Sempre acreditei que quando tivesse um problema, você falaria direto na minha cara, mas vi que você é igual aos outros homens. Se não foi capaz de comer a minha comida por achar que estava ruim, quer dizer que não tenho mais porque estar ao seu lado. Pior que esquecer de mim é me desprezar.
Espero que seja feliz em sua vida.
Sem mais,
Clarissa.


Eronildes coçou o cabelo, abriu a geladeira e pegou o pequeno pote onde guardara um pouco do macarrão na noite anterior, botou no microondas e aproveitou o último gosto do casamento.

Comentários

FAFÁ disse…
putz casamentinho indigesto hein?

dá pra trocar a cor deste blog azul calcinha???
o_argentino disse…
A reforma gráfica não ficou tão ruim, mas a cir azul calcinha é meio gay mesmo.

Gostei do texto!
Anónimo disse…
Eitaaaa mulher mais louca!!!! Mas adorei o texto e espero q ela ainda volte para casa... risos..