Minha vida de catraca: Aula de direito criminal

Quem diz que busão não é lugar de cultura, é porque só deve ter andando de ônibus em Londres ou Nova York. Lá, onde figuras como eu já foram abolidas, eles não sabem exatamente o que é realmente andar em um veículo do povo. E não têm ainda o privilégio de ter aulas de direito em plena locomoção.
Em um busão em São Paulo, por exemplo, você aprende rapidinho qual é a diferença entre furto e roubo. E, acreditem, é muito mais simples do que se imagina de saber a diferença. É a mesma de você entrar num busão lotado e em outro vazio. Literalmente.
Furto. Você só será furtado quando estiver em um busão cheio de gente. Se você é um daqueles seres espertos que deixou o bilhete ou a carteira no bolso de trás da calça, você será furtado. Alguma mão leve fará o favor de tirar o que é seu sem você perceber. Se você deixou algum bem relevante no bolso de fora da mochila ou a bolsa semi-aberta, considere-se furtado. Num busão cheio e/ou lotado, isto é a coisa a mais simples de acontecer. Afinal, você estará bem mais entretido em cuidar para não cair se segurando do que com seus bens.
Roubo: No busão vazio ou semi, pode notar que o caso será de roubo. Um ou normalmente dois caras vão passar sob mim. Sim, eles virarão para o cobrador e perguntarão se podem passar por baixo de mim. Como o cobrador nunca fala não, então o risco será bem maior. A partir daí, o risco de você ser roubado será grande. Provavelmente um deles vai passar por você e outro ficará do seu outro lado. Pronto. A partir daí, seus bens serão levados de uma maneira nada delicada. Se tiver sorte, a violência será apenas verbal, você não precisará ver a arma, mas a possibilidade de resistência da vítima (no caso, você passageiro normal que pagou para passar por mim em pé e não deitado) será quase nula. Logo, isto é roubo.

Simples, não disse? Até uma catraca pode ser cultura.

Comentários

FAFÁ disse…
catraca também é cultura
Onde está a cultura? Talvez possa ser lida no caderno de variedades de algum jornal. Mas onde está a realidade cultural? Está nas ruas, no trabalho, na catraca. Nesses lugares não há cenas, mas fatos
Márcia disse…
A catraca é um mundo que o busao carrega