Bar Mitzvá aos 32

No judaísmo, você vira ‘de maior’ depois dos 13 anos. Tudo é festa, você lê o livro sagrado, um montão de gente te dá tapinhas nas costas, embaralha seu cabelo, dá presentes e também aperta as bochechas. E o ato de apertar as bochechas é um sinal claro de que você não é um homem e nem homenzinho. Só está ganhando uma festa, mas que não passa de um garoto que está começando a ter relances de voz grossa, porque no máximo tem uma penugem no rosto.
Quando se nasce judeu e se é criado neste meio, você sabe que o bar mitzvá será o seu grande dia. Você é preparado para isto. Pena, porém, que ninguém te avisa que as demais coisas na vida não vêm com tantos preparativos e muito menos festas.
Quem sabe qual é o modus operandi de sair da casa dos pais? E de um casamento? Aliás, quem sabe qual é a idade para se casar? Aliás, é preciso mesmo casar? E quando saber que você está levando bem o seu casamento? Quando você sabe que realmente que não precisa mais aparecer toda hora na casa dos pais?
Trocar lâmpada não conta, porque isto você pode fazer na casa dos seus pais. Lavar louça também. Lavar roupa nem tanto e muito menos passar roupa. Tem mãe que ou não quer ver o filho se queimar ou não quer ver o filho estragar as roupas, mesmo que o filho tenha capacidade mental para não fazer nenhuma das duas coisas.
Trocar chuveiro, porém, é uma boa medida para saber se você é capaz ou não de se virar sozinho em um apartamento. Só queria fazer um parênteses neste momento do texto: queria entender porque fazem celulares do tamanho de uma joaninha, câmeras que só faltam falar, computadores que digitam sozinho, mas porque ainda existe apartamento onde o chuveiro não pode ser colocar com um simples ‘clic’. E mais: por que não pode simplesmente botar o plug na tomada e pronto?
Claro que a profissão de zelador está aí para isto, mas quando seu prédio não tem zelador e o eletricista está tão ocupado que não pode te atender nas próximas cinco horas? E quando um banho é mais necessário que matar a fome? Eis que você cria coragem, desliga toda a força da casa, pega a escada e vai trocar o chuveiro. Quase duas horas depois, muito suor escorrendo na camiseta, surge a água quente. A primeira água quente da vida sem o uso de fogão ou do microondas. Enfim, virei ‘de maior’ no casamento. Como sei? Ninguém apertou as minhas bochechas.

Comentários

FAFÁ disse…
PERDEU A VIRGINDADE!!!!
parabéns pela troca chuveiro e pelo texto, gostei!
Anónimo disse…
Cara.

Por aí eu já sou de maior umas 7 vezes só esse ano.

Mas sem casamento, por favor.

E haja fita isolante.
Olha, esses são daqueles textos que você começa achando bacana, evolui achando que não vai dar em nada e adora o final. Parabéns!
o_argentino disse…
Tb gostei! E ainda bem que inventaram aquecedor a gás...
db disse…
agora vou começar a me achar. Valeu!
Anónimo disse…
Eu morava com um menino que fazia Poli. E a vez que o chuveiro quebrou, em vez de deixar o engenheiro treinado fazer a troca, teimei em provar que eu conseguia sozinha e não precisava de homem para viver. Troquei, mas durante o processo ele quase teve um infarto.