Aquarela

Fosse um passeio por um shopping, por uma loja de departamentos daquelas que vendem de cueca até fazem empréstimos, fosse navegando pela internet do poupatempo. Toda vez era a mesma coisa.
Juvenaldo via a cara da mulher, como se transformava, como ela se derretia ao ver sempre a mesma cena. Ele não agüentava mais ficar impotente com toda aquela situação. Ele queria mudar tudo aquilo. Juvenaldo viu que mais do querer, ele tinha que. Se para a mulher era um sonho, para ele já era um martírio ver a mulher se consumir toda vez que via aquela enorme caixa de colorir, com cores que iam do branco-neve até o preto-petróleo-pré-sal.
“Sabe, amor”, começava ela. “Você sabe que eu adoro desenhar, né?. Então, não fica bravo porque toda vez que passo por essas lojas eu preciso namorar essa caixa, eu sou assim mesmo. Eu gosto de imaginar de ter esse estojo com gavetas que vão para frente, para os lados e com essa imensidão de cores igual daqueles do programa do computador do Juninho, filho da Greici, a nossa vizinha”, respondia ela, ao voltar ao mundo real e perceber que Juvenaldo estava esquecido no canto da vitrine com olhar de peixe morto.
Juvenaldo dizia que estava tudo bem, que isso e aquilo, ou seja, Juvenaldo apenas mostrava que era um marido como um outro qualquer e não dizia exatamente o que sentia para a própria esposa.
Mas um dia Juvenaldo resolveu dar um basta. Ele amava a mulher mais do que tudo. Passou três meses juntando o dinheiro, fazendo contas, ouvindo todo o tipo de especialista metido a especialista na televisão e na rádio. Queria saber qual era a melhor forma de comprar um produto tão caro como aquele. Se pegava dinheiro emprestado, se dividia no cartão, se tentava economizar para pagar à vista, se entrava no cheque especial. Alguma coisa ele precisava fazer. E fez.
Em um dia qualquer, longe do dia dos namorados, longe do aniversário do casamento (que ele nunca lembrava mesmo), longe do aniversário dela (que vira e mexe ele trocava a data), Juvenaldo apareceu com o embrulho. A caixa de madeira brilhava e ele ainda fez questão de dar mais uma mãozinha de poliflor.
Margarida arregalou os grandes olhos marrons, parou com a xícara de café no meio do caminho, na altura do pescoço branco enfeitado com um colar de biju. Paralisada, ela só viu aquele ser negro, alto, forte, um pouco gordinho é verdade, e de cabelo penteado para o lado chegar perto com aquele enorme presente.
“Amor, eu te amo”, disse ele.
Com os olhos vermelhos e com a primeira lágrima tímida querendo sair pela tangente do olho esquerdo, Margarida abriu e viu aquela imensidão de cores tomar conta da caixa, da sala e da pequena casa. Todo o momento durou um segundo, mas que para Juvenaldo ia tudo em uma prazerosa câmera lenta.
“Eu não estou acreditando”, começou ela. “E eu pensei que você me amava. Não acredito que fez isso. Como pôde fazer isso comigo? Você sabe o que isso significa?”
“Que eu te amo, não?”, disse ele.
“Que você acabou com meu sonho! Acabou com aquilo que eu sempre sonhei. Como pode uma mulher viver sem um sonho? Você quer me aniquilar, não é? Não sabe conviver com alguém que não pense só em você. Agora, quer que eu sempre ande com você, só vendo aquilo que você quer, só pensando naquilo que você quer. Fez uma loucura dessas, aposto que se endividou só para depois mostrar que é capaz de tudo. Isso não é amor, é egoísmo extrema. E realmente você é: acabou com o meu sonho!. Ah, Juvenaldo, eu não imaginava que você era esse tipo de pessoa. Juro que não!”, completou ela, já deixando a caixa em cima do sofá de dois lugares.
No dia seguinte, Juvenaldo voltou para a loja e fez o vendedor ir até o canto da vitrine.
No primeiro fim de semana, ele se divertiu como nunca com um pagodinho em cima da laje com os amigos, sem Greici, sem Juninho, dançando com todas as belas e também com as não belas mulatas, regado por muita cerveja, caipirinha e uma carne assada de primeira naquela churrasqueira que sempre sonhou que ficava no canto da vitrine. Para não deixar o fogo acabar, os desenhos que sobraram de Margarida e um livro de auto-ajuda que a mulher havia deixado em casa antes de ir para o colo da mãe.

Comentários

FAFÁ disse…
afeeeee tem mulher q pede
Anónimo disse…
Eu quero esse Juvenal !! hehehehe
jovana chances disse…
eu tb, juvenal vem cá!!!!
Camila disse…
Eu dou toda razão qfo falam ser impossível entender.
o_argentino disse…
Complete a frase: "Mulheres... não tende entendê-las, apenas..."