Dna. Dina

Cansado daquela vidinha, Calvin foi tentar encontrar uma solução para a sua vida.

Já não suportava mais ficar mudando de emprego sempre pelas mesmas razões, não aguentava ter que ficar ouvindo a ex-mulher batendo sempre na mesma tecla e nem ficar com fortes enxaquecas dia sim, dia não.

Calvin sabia que precisava dar um novo rumo na sua vida,mas o duro era encontrar quem estava disposto a ouvir. Porque não era simplesmente ouvir. A pessoa tinha que ser confiável a ponto de não espalhar para ninguém.

Terapeutas estavam descartados.

Como posso confiar em alguém que tem mais problemas do que eu?, dizia. Melhor resolver com uma loira gelada do que ficar choramingando deitado no divã com o ser sentado e só fazendo anotações com aquela cara de Freud pronto para dizer que a questão era com fálico-materna.
Com este discurso, passou a tentar encontrar uma ajuda por exclusão. Psicólogos, psiquiatras, centro de ubanda, centros espíritas, e qualquer outra religião foram logo riscados da lista. Minha solução está na razão, na ciência, dizia para o pobre coitado que sentava ao seu lado no busão, mas principalmente para o porteiro do prédio.

Foi, então, para o Dr. Google para ver se encontrava alguma coisa. Clínica, médico... Entrou em chats, em sites até que um nome surgiu do nada na décima segunda página do site de procura: “Dna. Dina resolve”.

Era um blog de um desconhecido que contava sobre a história da tal Dna. Dina. Dizia que ela tinha acabado com o seu grande fantasma interior, com sua dúvida cruel. “É seu problema resolvido ou dinheiro de volta. Mas com um detalhe: ela não cobra nada”.

Calvin, então, foi buscar mais informações sobre a tal dona. Não foi fácil. Encontrou informações sobre mãe Dinah, sobre a cozinha da Dina, o bar da Dina, Dina Sfatt, mas nada que desse informações sobre a “Dna. Dina”.

Desesperado, tentou um contato com o blogueiro –em vão. Que porra de pessoas que não respondem!, gritou, sozinho, enquando digitava em seu i-Phone.

Até que um dia andando pelas ruas da cidade, parou para tomar um chope do bar do Luiz quando viu uma pequeno cartaz grudado no poste. “Obrigado Dna. Dina”. Logo abaixo, um telefone.
Não teve dúvidas, ligou e descobriu com a moça que pendurou o cartaz onde e como poderia encontrar a famosa Dna. Dina.

No dia e horário marcados, entrou numa pequena sala branca com duas poltronas e se encontrou com Dna. Dina. Ele mal abriu a boca para contar o porquê dele estar ali quando ela falou: “Seu problema estará resolvido em 10 dias, mas só a partir das 18h”, disse ela.

Como assim 10 dias? Mas eu preciso ao menos dizer qual é o meu problema, o que eu tenho, o que eu sofro com tudo isto....

“Dez dias”, continuou ela. “E a partir daí não remoa mais o seu passado. Utilize para corrigir o seu futuro e...”, ia completando, quando Calvin deixou o recinto.

Calvin saiu da pequena casinha mais incomodado do que entrara. Ficou indignado em não obter uma resposta objetiva e passou a blasfemar. O dia passou a ter 35 horas, as noites de sono caíram de 8 para 4 horas diárias. A cabeça dele pegava fogo e seu rendimento no trabalho foi nulo. Mas eis que a partir das 17h30 do décimo dia após o encontro as coisas começaram a ficar claras. Era aí o momento que percebeu o peso que saíra da sua cabeça, dos ombros e de seu corpo. Ao atravessar a rua correndo e poder contar as novas para os amigos e principalmente sobre a tal dona, acabou sendo atingido por uma porta de um avião. Exatamente às 18h.

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