A munição de Munique

Ultimamente penso seriamente se vou ou não ao cinema. Muitas vezes lembro da frase de um ex-chefe que dizia que gostava de folgar nos dias da semana porque podia ir ao cinema praticamente sozinho à tarde. Realmente, como meu ex-chefe é sábio.
A última cena desagradável foi durante “Munique”. Antes mesmo do filme começar, já estava claro o que aconteceria. Muitas conversas e barulho de pipoca e, o que é pior, do saco de pipoca. Para piorar (sim, uma coisa sempre pode piorar), senta bem ao nosso lado um cara com camisa de clube. Poderia citar qual era o time dele, mas isto é indiferente. Ele senta com outros dois rapazes e uma mulher e, logo depois da primeira morte, eles estão rindo. Isto mesmo, eu não escrevi errado. R-I-N-D-O. Claro que tinha de ser assim: alguém que bota a camisa do clube que torce e vai para o cinema quer saber de tudo, menos do filme.
E a profecia se realizou. Eis que depois de alguns “shhhs” e “silêncios”, levantamos e fomos sentar numa das fileiras da frente. O lugar não era de todo ruim, mas adotamos a linha: “os incomodados que se mudem”.
Mas o que era o nosso incômodo perto do drama que se passava na tela? Palestinos lutando pela sua causa e atletas judeus sendo mortos durante os Jogos Olímpicos. Judeus usando táticas terroristas para matar terroristas. É verdade que usam táticas bem das diferentes dos terroristas de hoje em dia. Nenhum era homem-bomba, e sempre, ao menos no discurso teórico, evitam matar civis. “Terrorista bom é terrorista morto, mas só ele, eu não”. Os agentes sabras ensinam como matar de forma “limpa”. Colocam bombas em telefones, na televisão e na cama. Mas se matar resolvesse os problemas, Brasília já teria sofrido uns 518 ataques terroristas só em 2006.
Enfim, se os incomodados do Oriente Médio também saíssem do lugar, muitas mortes teriam sido evitadas. Mas se conhecesse o cara que fazia as bombas, contrataria para explodir as poltronas do cinema das pessoas que não calam a boca durante o filme.


PS: alguém reparou que no filme (e também na vida real) quando dois judeus se reúnem nunca conseguem entrar em um consenso?

Comentários

o_argentino disse…
Quando fui ver o filme, dois adolescentes conversavam antes das luzes serem apagadas: "Sobre o que é o filme?" "Sei lá, mano. Parece que é uns negócio de Olimpíada..." "É?" "É. E Munique parece que é o nome de uma mina..."